Monday, February 12, 2007

Os grandes Portugueses


Eis um tema que tem aguçado o apetite de alguns portugueses. Um grande português o que é ? Para mim, o grande português é aquele que mais se destacou na sua vida, no seu trabalho, pela sua genialidade, ou não seria digno de grande português se não tivesse sido genial. É a minha forma de ver as coisas. E é precisamente por isso que o meu voto caiu no maior poeta português de todos os tempos, Fernando Pessoa. Vejamos então porquê...

Afonso Henriques ? Não. Sim, foi Afonso que fez "nascer" a nossa nação. Todavia, esse facto não se prende unicamente à coragem do Rei, ou foi Afonso sozinho que dizimou milhares de mouros ? Não é que não admire Afonso Henriques, mas para grande português não me enche as medidas e, como tal, não serve. Seguinte...

Álvaro Cunhal ? Grande homem é aquele capaz de lutar sem se ajoelhar, é aquele que não abdica dos seus princípios, é aquele que dedica toda a sua vida em prol de um objectivo. Cunhal foi assim, viveu do e para o Comunismo, combatendo exaustivamente o Estado Novo. Porém, Cunhal não alcançou o "trono", e quem é segundo não é primeiro.

Salazar ? Não. A sua ditadura opressiva não é digna de um bom português e nem sequer gasto mais latim aqui. Vamos rápido para o próximo...

Aristides ! Aristides foi como todos deviamos de ser. Ele salvou dezenas de milhares de pessoas que fugiam do monstro nazi, concedendo-lhes vistos, recusando as ordens do seu governo. Estarei certo se disser que foi despedido por isso ? Quem o despediu ? Eu não quero entrar por aqui... Em suma, Aristides foi um grande homem, um grande português. Foi humano e fraterno. Não consigo dizer que não merecia o título.

Infante D.Henrique. O grande condutor da expansão ultramarina. O homem dos misteriosos segredos. O homem que esticou as pernas a Portugal. Um grande português, porque não ?

D.JoãoII, príncipe perfeito. Porquê ? Talvez pela forma como exerceu o seu poder. Ora, um português que exerce bem o seu poder é um grande português e é, honestamente, um caso raro. Porém, faz-me sempre confusão a herança monárquica. Até eu poderia ter sido rei. Porque não ? Se fosse filho de D.JoãoII...

Marquês de Pombal fez coisas boas. Aproximou, por exemplo, Portugal à realidade do Norte da Europa, o que já não é pouco. Episódio marcante relacionado com o Marquês foi também o avassalador terramoto de Lisboa. "E agora? Enterram-se os mortos e alimentam-se os vivos", disse o Marquês. Foi assim não foi ? Ele reergueu Lisboa ou, no mínimo dos mínimos, ajudou a isso. A economia, religião e educação foram domínios "alterados" em Portugal pelas reformas do Marquês. Basicamente, O Marquês deixou muito para contar. Porém, algo me diz que ele não foi perfeito. Não foi, diga-se, o genial !

Luís Vaz de Camões. Se a tanto me ajudar o engenho e a arte, espero levar a minha vida sempre com a glória que Camões cantou n´Os Lusíadas. Ele atingiu o nível dos grandes poetas. Ele alcançou a perfeição, ou andou por lá, ou qualquer outra coisa que queiram que diga desde que seja semelhante. Camões é o Grande Português do Antigo Portugal. Sim, porque quer queiramos quer não, a realidade do seu tempo não é a mesma de agora. É aqui que eu me deixo guiar pela confusão, e preferia votar num Antigo Grande Português e num Novo Grande Português.

Fernando Pessoa. O homem que se dividiu em diferentes personagens. O homem que criou dezenas de almas, qual delas a maior ! Fernando Pessoa galgou os limites, ultrapassando-os em larga escala, de maneira a nunca ter visto a sua angústia compreendida. Frustrado, falhado, alcoólico, drogado ... chamem-lhe o que quiserem. Ele foi a alma maior, o clímax da genialidade. Ele superou tudo e todos com a sua poesia. Partiu cedo, nem eu era nascido. Deixou-me Ricardo Reis para eu aprender a viver a vida, deixou-me Caeiro para eu olhar mais as coisas, deixou-me Álvaro de Campos para eu não sofrer sozinho... deixou-me o Livro do Desassossego para eu não me sentir só e único no mundo, especialmente quando a nuvem me tapa o sol. Ele foi a ressurreição da glória quinhentista, ele foi a alma que Zeca Afonso cantou, ele foi um bocado da voz de Amália, ele foi um bocado de cada grande português, ele foi um bocado de todos nós. Ele foi o Universo dentro do país. Viva Fernando Pessoa.

Admito a minha parcialidade desmedida neste tema, mas isto é um espaço pessoal, e aqui o voto é meu :-) Nem sequer me sinto capaz de dizer tudo o que queria sobre ele.


Não sei se Fernando Pessoa será o Grande Português, esperemos para ver... À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.


6 comments:

Independente said...

Tal como tu admiro Fernando Pessoa, porem penso que a grandiosidade dele pode comparar-se á de Camões(embora, confesso que admiro um pouco mais Camões=P).
Mas para mim o grande portugues foi sem duvida Aristides Sousa Mendes. Nada tinha a ganhar, tudo tinha a perder. Salvou para depois ser 'morto'. Foi um homem completamente á parte numa geração de destruidores do nosso mundo.

Avé Aristides.

Anonymous said...

Tu sabes como gosto de Pessoa, mas...O maior português foi Vasco da Gama, apesar de eu ter votado no grande Camões. Sim, sou poço de contradições. Camões, grande português, pois admiro a sua persistência, o seu génio e lamento o modo como viveu enquanto homem, enquanto poeta e enquanto observador. Vasco da Gama porque fez-se ao mar, vencendo medos que se tornaram ultrapassados (nem todos, mas..), mostrando uma inteligência rica em descobertas e encontros muito importantes para o homem actual....Opiniões...

Anonymous said...

O Aristides só pelo nome (Sousa Mendes) merece ganhar...!

mas de resto concordo contigo torrinha! FP for president! ele era de facto um génio... a loucura não é suficiente para uma construção tão coerente de tantas personagens diferentes...!

Anonymous said...

Porque nao Florbela Espanca ?

Não foi mencionada nenhuma mulher na tua escolha, será que o nosso país não carrega na sua história os traços vencedores e influentes de muitas mulheres?

Eu penso que sim *

Bju ratamahatta **

Anonymous said...

Desculpa deixo-te uma pergunta retorica... Será que alguem que se baseia no alcool e na droga fugindo ao que é, distorcendo e destruindo a sua mente e corpo é digno de igual grandiosidade de vencer uma batalha ou de comandar um pais durante anos a fim? Como explicas a grandiosidade dum homem que sobrio nao tem inspiração nao cria e se quer matar? De facto os poemas que ele deixou nao foi ele que os escreveu, lembras-te do que aconteceu numa noite de grande bebedeira? eu nao...

O Castrador

Anonymous said...

You write very well.