O pesar do sonho baixou pela noite fora. Toda a noite, a sua imagem insistiu-me pelos vidros da janela do meu quarto. A noite, em tom brilhante, avivava-me os sentimentos, liquidificando-me a consciência. A voz de Eddie Vedder balanceava-me na mente, em associação divina com a minha memória visual. O sono não vinha e eu, no meio dos lençóis como peixe fora de água, sentia-me vazio, com o sonho ali tão perto… Tardava em adormecer, ia sonhando, sonhando acordado. Procurava via consciente um sentido real para aquilo, mas acontece que, por vezes, por mais engenho que possuamos, é impossível dar base ao que sentimos. Àquela hora, via-me fora do contexto real do mundo, via-me numa estrada divina, numa busca infinita de um sonho recuperado, ainda mais forte que o anterior, bem mais intenso até. Afinal, o sonho era outro sim senhor. Mordia-me o medo de não o conseguir viver, e não adormecia.
O som casual de um cão a ladrar asperamente, como que a reclamar algo, afinava-me a concentração da alma. Crescia de fora do quarto uma agitação qualquer, que não me desviava as atenções, fosse por que motivo fosse…
O quarto estava escuro, apenas iluminado pelo rasgo lunar que entrava pela portada entreaberta da janela. Nas negras paredes da ocasião, ondeavam os sonhos por realizar, os que ficaram para trás. A secretária do meu quarto, maior do que em qualquer outro dia, sugeria-me um peso mais do que brutal na consciência. Lembrava-me do parentesco entre o génio tão procurado nela com o desespero dessa mesma procura. A porta nem gemia, como se aquele quarto representasse outra dimensão que não a humana. Uma metafísica inexplicável, estrondosamente assustadora, ainda que por detrás de tudo aquilo, estivesse um encantamento belo e natural. Quanto ao sonho, eu ia-o sentindo, pensamento após pensamento.
Diferente, a noite prosseguia. Os sentimentos tardavam em desaparecer, e o sono não começava…A solidão da minha alma invadia a pureza do sonho. Invadia tudo aquilo que mais queria. O quarto, intenso e pesado, e a sombra das coisas que nele estavam davam lugar ao medo de avançar na minha vida por um meio real…
Já os raios solares se espalhavam de entre o céu semi-nublado quando acordei. Afinal, consegui dormir. Porém, não sonhei tudo. A razão é simples: O sonho não me deixa.
Nuno.