
Eis um tema que tem aguçado o apetite de alguns portugueses. Um grande português o que é ? Para mim, o grande português é aquele que mais se destacou na sua vida, no seu trabalho, pela sua genialidade, ou não seria digno de grande português se não tivesse sido genial. É a minha forma de ver as coisas. E é precisamente por isso que o meu voto caiu no maior poeta português de todos os tempos, Fernando Pessoa. Vejamos então porquê...
Afonso Henriques ? Não. Sim, foi Afonso que fez "nascer" a nossa nação. Todavia, esse facto não se prende unicamente à coragem do Rei, ou foi Afonso sozinho que dizimou milhares de mouros ? Não é que não admire Afonso Henriques, mas para grande português não me enche as medidas e, como tal, não serve. Seguinte...
Álvaro Cunhal ? Grande homem é aquele capaz de lutar sem se ajoelhar, é aquele que não abdica dos seus princípios, é aquele que dedica toda a sua vida em prol de um objectivo. Cunhal foi assim, viveu do e para o Comunismo, combatendo exaustivamente o Estado Novo. Porém, Cunhal não alcançou o "trono", e quem é segundo não é primeiro.
Salazar ? Não. A sua ditadura opressiva não é digna de um bom português e nem sequer gasto mais latim aqui. Vamos rápido para o próximo...
Aristides ! Aristides foi como todos deviamos de ser. Ele salvou dezenas de milhares de pessoas que fugiam do monstro nazi, concedendo-lhes vistos, recusando as ordens do seu governo. Estarei certo se disser que foi despedido por isso ? Quem o despediu ? Eu não quero entrar por aqui... Em suma, Aristides foi um grande homem, um grande português. Foi humano e fraterno. Não consigo dizer que não merecia o título.
Infante D.Henrique. O grande condutor da expansão ultramarina. O homem dos misteriosos segredos. O homem que esticou as pernas a Portugal. Um grande português, porque não ?
D.JoãoII, príncipe perfeito. Porquê ? Talvez pela forma como exerceu o seu poder. Ora, um português que exerce bem o seu poder é um grande português e é, honestamente, um caso raro. Porém, faz-me sempre confusão a herança monárquica. Até eu poderia ter sido rei. Porque não ? Se fosse filho de D.JoãoII...
Marquês de Pombal fez coisas boas. Aproximou, por exemplo, Portugal à realidade do Norte da Europa, o que já não é pouco. Episódio marcante relacionado com o Marquês foi também o avassalador terramoto de Lisboa. "E agora? Enterram-se os mortos e alimentam-se os vivos", disse o Marquês. Foi assim não foi ? Ele reergueu Lisboa ou, no mínimo dos mínimos, ajudou a isso. A economia, religião e educação foram domínios "alterados" em Portugal pelas reformas do Marquês. Basicamente, O Marquês deixou muito para contar. Porém, algo me diz que ele não foi perfeito. Não foi, diga-se, o genial !
Luís Vaz de Camões. Se a tanto me ajudar o engenho e a arte, espero levar a minha vida sempre com a glória que Camões cantou n´Os Lusíadas. Ele atingiu o nível dos grandes poetas. Ele alcançou a perfeição, ou andou por lá, ou qualquer outra coisa que queiram que diga desde que seja semelhante. Camões é o Grande Português do Antigo Portugal. Sim, porque quer queiramos quer não, a realidade do seu tempo não é a mesma de agora. É aqui que eu me deixo guiar pela confusão, e preferia votar num Antigo Grande Português e num Novo Grande Português.
Fernando Pessoa. O homem que se dividiu em diferentes personagens. O homem que criou dezenas de almas, qual delas a maior ! Fernando Pessoa galgou os limites, ultrapassando-os em larga escala, de maneira a nunca ter visto a sua angústia compreendida. Frustrado, falhado, alcoólico, drogado ... chamem-lhe o que quiserem. Ele foi a alma maior, o clímax da genialidade. Ele superou tudo e todos com a sua poesia. Partiu cedo, nem eu era nascido. Deixou-me Ricardo Reis para eu aprender a viver a vida, deixou-me Caeiro para eu olhar mais as coisas, deixou-me Álvaro de Campos para eu não sofrer sozinho... deixou-me o Livro do Desassossego para eu não me sentir só e único no mundo, especialmente quando a nuvem me tapa o sol. Ele foi a ressurreição da glória quinhentista, ele foi a alma que Zeca Afonso cantou, ele foi um bocado da voz de Amália, ele foi um bocado de cada grande português, ele foi um bocado de todos nós. Ele foi o Universo dentro do país. Viva Fernando Pessoa.
Admito a minha parcialidade desmedida neste tema, mas isto é um espaço pessoal, e aqui o voto é meu :-) Nem sequer me sinto capaz de dizer tudo o que queria sobre ele.
Não sei se Fernando Pessoa será o Grande Português, esperemos para ver... À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.